terça-feira, 27 de julho de 2010

O homem que não sorri

Todos os dias ele acorda tarde. Carrega um peso invisível nas costas que o faz se encurvar diante do novo dia. Todos os dias ele revira na cama, até que tenha coragem de levantar. A maioria das vezes, levanta mesmo sem ânimo. Ele nunca diz "bom dia". Ele nunca tem um bom dia. Todas as manhãs, após enfim se pôr de pé, ele se olha no espelho do banheiro. Algumas vezes força um sorriso. Força tanto que faz seus olhos se fecharem quase que completamente. Ele não sorri. Faz a barba, escova os dentes, lava o rosto, mas não sorri. Queria poder dizer que ele não é uma pessoa normal. Mas ele é. E esse é o problema. Esse é o motivo de todos os seus não-sorrisos e não-bons-dias. Ele não tem alegria, apenas compromissos. Ele não pensa em aproveitar o dia, apenas em trabalho. Ele não tem família ou amigos, mas tem dinheiro. Ele tem muito dinheiro. Não o bastante para comprar um sorriso. Sorrisos não se compram. Sorrisos surgem, assim, como mágica. Mas os sorrisos não surgem pra ele. Os seus dias são frios. Seus meses são cinza. Seus anos são amargos. E ele não sorri. Certa noite ele se deitou. Acordou de madrugada sentindo-se estranho. Foi ao banheiro. Lavou o rosto e se olhou no espelho, como faz todas as manhãs. Foi então que aconteceu. Um sorriso surgiu em seu rosto. Assim, como mágica. E ele sorriu. Sentiu-se vivo. Sentiu-se completo. Voltou a dormir. Não mais acordou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário