sexta-feira, 23 de julho de 2010

Eu estou em frente à sua porta

Eu estou em frente à sua porta agora. Eu sei que não devia estar aqui. Eu sei que não devia estar assim. Não trago flores e nem qualquer poema. Doces, muito menos, já que amargo é o gosto de você que eu sinto agora em minha boca. Mágoas. Eu as carrego por onde eu for. Mas eu estou em frente à sua porta agora. Já nem sei dizer quem está certo ou, ainda, se eu estou no lugar certo. Eu vim te ver, mas temo que você abra a porta. Não sei como seria te encarar agora, assim, no meio da noite. No meio da rua. No meio da chuva. No meio do nada. E temo que esse nada seja tudo o que restou de nós. Temo que nem esse "nós" exista mais. Nós. Nem sei mais como é ser apenas "eu". Sei apenas que estou em frente à sua porta. Talvez nem disso eu saiba mais. O que eu sou? O que eu sou pra você? Por que sinto o frio da noite aqui fora, se você está tão perto? Por que sinto esse frio, eu e minhas mágoas, e não o seu calor pulsante? Seu calor. Que me aquece a alma. Que vem do seu coração e faz o meu se aquecer. Talvez eu devesse ir embora. Você nem sentiria minha falta. Sentiria? Por um instante eu queria que meus pés me levassem adiante. Mas talvez fosse melhor não. Talvez eu devesse ir embora. Me decido, vou embora. Não quero mais estar em frente à sua porta. Decidido. Decidido e com frio. Decidido e sozinho. Decidido e amargurado. Vou embora! Recuo. Algo me impediu. Um cheiro. Teu cheiro. A porta abriu. É você. Estou em frente à sua porta. Estou em frente a você. Você sorri. Mas eu tenho mágoas. Eu tenho frio. Você tem o sorriso. Você tem o calor. É sua a mão que me segura. É você que me abraça e me desarma. É você que me puxa pra dentro. Pra que eu possa me aquecer. Pra que eu possa me secar. Tirar de mim a água da chuva dessa noite fria. Tirar de mim a mágoa. Já não me importa o que eu perdi. Tenho você. Tenho você, de novo. Agora estou atrás de sua porta. Junto ao teu calor, ao teu abraço. E já não me importa o que eu perdi. Tenho você. Tenho você, de novo.


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