sábado, 14 de julho de 2012

Um café

Sozinho à mesa posta. Um surto de vontade. Arrumou-a com o só o faz quem espera visita. Abriu uma fresta de janela para que entrasse luz no ambiente. Uma manhã moderada adentrou, iluminando um terço da mesa. Suficiente. De cor, além do suco e de algumas maçãs, só o castanho claro de seu olhar negro e pesado. Se perde a cada passo. Perdido em sua própria casa. Apressa-se: a água ferve. Segura, com toda firmeza que lhe cabe, o botão. Desliga o fogo, fazendo acalmar-se a fervura. Mistura-lhe o pó, ferve outra vez. Está pronto. Olha a mesa, algo falta. O quê? A xícara, talvez. De fato, a xícara. Vai em busca da... de quê mesmo? Mira outra vez a comida disposta timidamente sobre a toalha lavada. Tinha-lhe dado, também, o ímpeto de trocar a roupa de cama e a toalha da mesa. Xícaras... onde estão? A jornada termina. Não importasse as cores ou as luzes, era o mesmo: quente, negro e amargo. Sentado, outra vez, à mesa, degusta a bebida de sua vida inteira. Sem açúcar. Um café.